TOMAZ
de FIGUEIREDO - Poeta
Já que é sobre o ombro do poeta que nos debruçamos deixemos para traz os seus tempos de vida activa em Lisboa e a sua primeira etapa de notário em Estarreja. Sem abandonar a poesia – ela está-lhe de tal modo no sangue que toda a sua prosa é, de algum modo, poesia também – esses são anos do romancista que, tendo presente o que dissera Afonso Lopes Vieira: “A Língua Portuguesa é aquela que nunca se chega a saber”, no seu rigor perfeccionista, apenas surge aos quarenta e cinco anos com um primeiro romance, “A Toca do Lobo”, imediatamente distinguido pela crítica, que alcança o Prémio Eça de Queiroz e se torna na sua obra mais emblemática. “A Toca do Lobo”, afirma Bigotte Chorão, “obra-prima do autor, no duplo sentido de ser a primeira em publicação e a de maior fortuna entre a crítica e os leitores, é, ao mesmo tempo, um livro clássico e moderno: clássico, na forte linhagem camiliana, e moderno, na técnica do monólogo interior…Embora de linhagem camiliana, não há propriamente o que se chama influência de Camilo em Tomaz de Figueiredo. São, sem dúvida, escritores da mesma linha espiritual…São escritores de elevada temperatura passional, e a abundância de coração reclama uma prosa ao mesmo tempo extensa e intensa. Trata-se pois, mais de uma afinidade que de uma influência”. E diz-nos ainda:” Mas a prosa densa do nosso autor, o seu como que dinamismo barroco, todo esse lavor de canteiro ou estatuário, todo esse repto que não recua diante de nenhuma apóstrofe, tudo provem de Vieira, o seu confessado Mestre…”Durante este longo período de Lisboa e Estarreja apenas um livro de poesia dá à estampa: “Guitarra, 13 romances”, assim o poeta o apelida e impregna-o do sabor das coisas antigas: o da velha criada da família, o dos retratos dos antepassados, o da linha política encarnada em Paiva Couceiro, mas igualmente o da Lisboa dos bairros populares, das raparigas de vida desprotegida, dos barcos cacilheiros, dos infelizes cães citadinos:
Entrevista de Tomaz de Figueiredo à RTP – entrevistador Manuel Caetano
